O corpo docente e alunos do Instituto Pramāṇa marcou presença no IX Congresso da ANPTECRE, que aconteceu na PUC – Campinas de 19 a 21 de setembro de 2023. Considerado um dos maiores congressos de religião da América Latina e Caribe, nosso time abordou uma grande variedade de temas pertinentes ao budismo.
Segue abaixo os temas das apresentações de nossos professores(as) e alunos(as):
Autora: Fernanda Marina Feitosa Coelho (Lobsang Khandro – Doutora em Ciências da Religião (UMESP); Profa. e Coordenadora do Instituto Pramāṇa)
Resumo: O contexto brasileiro e amplamente construído pela diversidade religiosa. A secularização (Pierucci, 1998) e consequente descentralização do poder religioso dominante abriu espaço para o pluralismo religioso que trouxe um novo paradigma para o entendimento da experiência religiosa. Esta comunicação tem como objetivo perceber a experiência religiosa de pessoas que não se limitam a vivenciar uma religião, mas que, a partir da bricolagem (Hervieu-Leger, 2015), fazem mais do que peregrinar pelas religiões, intencionalmente vivenciam e buscam praticar mais de uma religião com vistas a uma experiência religiosa que lhe ofereça o melhor de dois mundos. Entendemos, a partir do dialogo interreligioso que o encontro de diferentes religiões em uma mesma experiência religiosa permite uma expansão das relações humanizadas e humanizantes. Neste contexto, o treinamento dialógico pode transformar relações objetificantes em uma verdadeira abertura para o “outro”, dinâmica esta que parte da opção pelo dialogo que aceita, ao invés de causar dominação. A partir dos objetivos do dialogo inter-religioso dispostos por Panasiewicz (2007), analisamos a experiência de dois braços da Associação Buddha-Dharma, localizada na cidade de Valinhos, cidade no Estado de São Paulo, em cujos braços, cristão católico com o Instituto Tomasiano e budista com o Instituto Pramāṇa permitem uma experiência mais contextualizada do budismo num Brasil amplamente secularizado.
Palavras-chave: Dialogo interreligioso; Budismo; Cristianismo; Secularização; Dominação religiosa.
Resumo: Uma mulher quando adentra ao monasticismo budista, precisa galgar espaços para progresso no desenvolvimento espiritual nos níveis de ordenamento. Enquanto para os homens e necessário passar por dois estágios para o Pleno Ordenamento, para as mulheres exige-se passar por três estagios: Shramanerí, monja noviça com dez preceitos; Shikshamana, estagio intermediário, chamado de probatório com trinta e quatro preceitos; Bhikshuní, monja plenamente ordenada com 364 preceitos (na tradição Mulasarvastivada). Ocorre que nas três tradições originarias que ainda mantem a linhagem, Dharmagupta, Mulasarvastivada e Theravada, somente a Dharmagupta mantem a linhagem dos votos de ordenamento pleno feminino, enquanto nas demais a linhagem se perdeu, existindo uma luta global pelo seu restabelecimento. As monjas que lutam por este restabelecimento enfrentam obstáculos variados, desde a proibição estatal, como e o caso da Tailândia, ou não recebem apoio de suas comunidades e não são bem-vistas, como e o caso tibetano. O objetivo da presente comunicação e discutir o processo de ordenamento pleno a partir da experiência de uma monja budista que conquistou essa posição. Além de pesquisa bibliográfica, foi realizada uma entrevista semi-estruturada em formato virtual com monjas da Shakyadhita, residente em Valinhos – SP. Tal proposta e um extrato da pesquisa de doutorando em andamento. Que investiga as motivações da busca do ordenamento pleno feminino a despeito dos impedimentos.
Palavras-chave: Monja Budista; Shakyadhita; Ordenamento Feminino; Budismo; Mulheres.
Autora: Tattiane Marques (Mestra em Ciências da Religião, UMESP; Profa. do Instituto Pramāṇa)
Resumo: Na trajetória do budismo, o papel da mulher tem sido historicamente legitimado, desde as primeiras comunidades. Ao longo dos séculos, a mulher budista, muitas vezes, encontra-se em uma posição subalterna. Elas sustentam e auxiliam as comunidades monásticas, frequentemente atuando como patronas e desempenhando inúmeras funções institucionais, embora o cenário histórico seja marcado por uma escassez notável de professoras e Lamas com títulos e doutorados, especialmente na tradição Geluk tibetana, onde não há o reconhecimento de mulheres professoras na atualidade. Nesta comunicação, o objetivo é demonstrar como a representação feminina, personificada em Buda Tārā, contribui para a construção de um budismo brasileiro mais crítico, emponderando as mulheres a serem representantes e detentoras da linhagem monástica feminina. Na pesquisa, para análise conceitual e literária, foi usada a metodologia sincrônica ao percorrer a história da tradição Geluk. A narrativa literária revela que Tārā, em suas diversas manifestações, sempre ocupou um lugar de relevância na vida dos estudiosos budistas, predominantemente homens. No sistema Vajrayāṇa Geluk, em que as mulheres desempenham um papel de destaque, uma indagação permanece na atualidade: onde estavam as mulheres nas universidades e monastérios budistas? Considerando a equanimidade como um pilar teológico Geluk, surge a indagação sobre a ausência de reivindicações e ações concretas para modificar esse panorama. Os resultados da pesquisa evidenciam que Buda Tārā, por meio de suas diversas representações de gênero em narrativas históricas, desempenha um papel de relevância ao pavimentar um caminho para a afirmação das praticantes da tradição Geluk.
Palavras-chave: Buda Tara; Budismo; Budismo Tibetano; Mulheres Budistas; Budismo Brasileiro.
Autora: Estela Piccin (Lobsang Lhamo – Doutoranda em Ciências da Religião, UMESP; Profa. do Instituto Pramāṇa)
Resumo: A mãe daquele que viria a se tornar o Buddha Sakyamuni faleceu poucos dias após ter dado a luz. Uma antiga tradição diz que o Buddha teria ido até o reino celestial onde sua mãe tomara renascimento para ensina-la. Todos sentiam sua falta no reino humano, e ele avisou quando desceria de volta. Eis que relevos antigos e antigos textos apresentam diferentes versões de como teria sido a recepção do Buddha em sua descida na cidade de Samkasya. A mais conhecida e a de que a monja Utpalavarna, desejosa de ser a primeira a prestar homenagens ao Buddha, teria usado seus poderes psíquicos para se transformar em um rei imponente e ser capaz de atravessar a multidão, ja que enquanto simples mulher, nao teria sido possível. Esta comunicação objetiva apresentar as peculiaridades da maneira como essa historia e essa personagem foram retratadas particularmente na região de Gandhara, trazendo um dos aspectos da representação do feminino budista na região, através do método de analise do discurso visual budista de Vidya Dehejia, e fundamentado nos estudos de importantes autores como Gregory Schopen (arqueologia e estudos textuais budistas), Serenity Young (teoria de gênero no budismo), e outros. Observamos nas diferentes narrativas que por vezes e dada uma chance para o feminino, e por vezes não apenas o feminino e negado, mas também a relevância da piedade visual.
Palavras-chave: Monja Utpalavarna; Gandhara; Budismo; Cultura Visual Religiosa.
Resumo: A Roda do Samsara e uma imagem muito presente no budismo tibetano que representa o ciclo de sofrimentos no qual os seres estão inseridos. Esta comunicação apresentara uma hermenêutica inter-religiosa budista e crista das seis divisões dos seres na iconografia da Roda do Samsara, segundo a escola budista Geluk. Será apresentada uma descrição geral da historia e simbolismo da imagem da Roda do Samsara, seguida de uma analise de cada um dos seis tipos de seres como metáforas para seis categorias de sofrimento e causas de sofrimento que os seres humanos experimentam. Tradicionalmente, a intenção desta analise e gerar compaixão. Para cada um dos seis níveis, uma aflição específica será explorada, comparando suas descrições e definições a partir de uma perspectiva budista Geluk e crista. A analise iconográfica e a hermenêutica serão implementados. Atualmente, o Dalai Lama e o principal representante da escola de budismo Geluk. Sendo a harmonia religiosa um dos quatro pilares dos principais compromissos do Dalai Lama, ele afirma que ela continua sendo a quintessência da harmonia social por meio da compreensão e respeito mútuos. Esta comunicação encontra sua relevância em sua intenção de dialogo inter-religioso a partir da leitura de uma imagem de uma tradição religiosa, incluindo parâmetros de outra tradição religiosa. Tornou-se claro ao longo desta comunicação que as definições cristas e budistas de aflições mentais são complementares e ajudam a lançar luz sobre aspectos importantes de ambas as tradições, e que as imagens são um importante ferramental neste processo.
Palavras-chave: Budismo Geluk; Cristianismo; Dialogo Inter-religioso; Iconografia; Roda do Samsara.
Autora: Geovana Moretto (Lobsang Sangmo) Mestranda em Ciências da Religião, UMESP; Aluna do Instituto Pramāṇa)
Resumo: A constituiçao dos canones budistas possui uma narrativa inerente a própria historia do budismo, pois acompanha seu desenvolvimento e expansão da Índia para diversos outros territórios ao longo da historia. Entende-se que o cânone começa a ser constituído após a morte do Buddha Sakyamuni, com o advento do Primeiro Concílio de Rajagrha (sec. V a. C), estabelecido por seus alunos próximos, tinha como objetivo reunir os ensinamentos e preserva-los, assim como houveram outros concílios posteriormente com intenções semelhantes, impactando a constituição dos cânones pelas escolas. Ao longo de 2500 anos de historia, as divisões entre escolas que tiveram o sei cerne na Índia, a circulação de monges e textos por meio das rotas comerciais na Ásia, a institucionalização do budismo em diversos países, proporcionou a preservação dos textos e das tradições de maneiras particulares, de modo que existem diversos cânones com configurações diferentes. Com o advento da modernidade no mundo budista, surge o do Movimento do Budismo Humanista na China em contraposição as tradições, o qual deu origem a versão moderna do cânone budista Taisho Shinshu Daizokyo (大正新脩大藏經), feito no século XX. Desta forma, busca-se mostrar nesta comunicação algumas características deste cânone que impulsionaram o desenvolvimento deste movimento, se contrapondo a idolatria das tradições e se embasando no altruísmo e na vivencia das praticas diárias, características que impactam a formação do budismo brasileiro.
Palavras-chave: Budismo; Canone Budista; Movimento do Budismo Humanista.
Autora: Blanches de Paula / Coautor: Felipe Donadon (Doutorando em Ciências da Religião, UMESP; Prof. do Instituto Pramāṇa)
Resumo: A compaixão é uma atitude de estar com o(a) outro(a) nas suas sensibilidades mais profundas, suas dores e finitudes. Essa presença envolve também um processo de identificação e solidariedade profunda na concepção cristã. Agora, dentro do escopo budista tibetano geluk, é através da compaixão que surge o desenvolvimento da mente do despertar. Tal desenvolvimento, por sua vez, se direciona para o estado de libertação do sofrimento e suas causas, para o benefício de todos os seres sencientes. A presente pesquisa em andamento tem como objetivo, oferecer um diálogo sobre compaixão a partir da concepção cristã e budista e sua contribuição para a saúde integral. A concepção de compaixão foi pesquisada nas obras de Leonardo Boff e Dalai Lama que tratam especificamente deste tema. A partir desta pesquisa contatou-se que a compaixão é uma linguagem comum entre cristianismo e budismo quando se trata de promoção do bem-estar humano. Tanto no cristianismo como no budismo, a compaixão é uma linguagem que explicita nossa humanidade ao nos solidarizamos com as pessoas em meio ao seu sofrimento. Compreendemos que a compaixão é uma atitude indispensável para a promoção da saúde e pode contribuir para o bem-estar social e promoção da dignidade da vida.
Palavras-chave: Compaixão; Cristianismo; Budismo Tibetano Geluk; Saúde Integral.
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